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a delicadeza


não é uma solução, mas atenua a gravidade com que a vida nos pesa e nos torna enxarcados de suas particularidades sujas e contagiosas. quem prova da suavidade de algo nunca mais esquece o alívio de pousar o corpo a cabeça o braço até mesmo a mão na delicadeza desse espectro da consolação que está ali pairando ao redor da dor, de prontidão a oferecer ternura. pode chegar de várias formas, numa imagem, palavra, gesto, oferenda, pele. nunca se tem a certeza absoluta do momento em que nos toca e lembra que a vida é essa confusão toda de atropelamentos e sugestões amorosas, mas com esta ressalva. a consciência dela não é exata e não tem necessidade de ser. por vezes só nos damos conta quando já se foi, pois pende o seu rastro pelas ruelas alamedas becos curvas lamaçais e pedregulhos: é como beirar um instante de paz no limite da fúria dos acontecimentos. irreparável na memória sensível de nossas tentativas e erros e considerações e sofrimentos, a vida sem a delicadeza acidental da ternura não seria possível.

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